Oradores
Dr. João Santos, CITAB, UTAD
Os novos desafios das alterações climáticas para os sistemas agroflorestais: discussão de alguns estudos de caso
Os sistemas agroflorestais apresentam geralmente uma importante dependência das condições atmosféricas e climáticas. Alguns estudos de caso serão apresentados, quer ao nível de diferentes culturas agrícolas, quer ao nível da floresta em Portugal e na Europa. A origem desta forte dependência está precisamente na elevada importância e complexidade das interações entre as plantas e o microclima envolvente. Com efeito, o desenvolvimento fisiológico e os estados fenológicos são largamente determinados, direta ou indiretamente, pelas condições atmosféricas, nomeadamente pelas temperaturas médias do ar e respetivo ciclo sazonal, pelos acumulados térmicos em períodos específicos, pelo acumulado de frio durante períodos de dormência, pela precipitação, pela humidade do ar, pela radiação solar e pelo vento. Os eventos meteorológicos extremos, tais como o granizo, as geadas tardias, as secas e as chuvas intensas, são também fatores forçadores de enorme relevância. As condições atmosféricas determinam ainda a evapotranspiração, o balanço de água nos solos e os respetivos teores de humidade e temperaturas no solo. São, portanto, agentes centrais do stresse abiótico. As condições atmosféricas são ainda importantes nas interações entre a planta e o bioma envolvente, podendo ter um papel indireto muito importante no stresse biótico. Acresce ainda que as plantas, em geral, dependendo naturalmente da espécie, subespécie, ou mesmo clone, apresentam limiares e ótimos térmicos bem definidos, assim como tolerâncias ao stresse hídrico relativamente bem estabelecidas. Por conseguinte, a distribuição geográfica das principais espécies agroflorestais, sobrepõe-se, em grande medida, a determinados nichos bioclimáticos. A zonagem bioclimática é, pois, essencial para a determinação da adequação de uma dada região a determinada espécie vegetal. Os cenários de alterações climáticas futuras para Portugal, pese embora o nível de incerteza que ainda subsiste, projetam diminuições significativas na precipitação e aumentos assinaláveis na temperatura do ar, agravados por aumentos na probabilidade de ocorrência de eventos meteorológicos extremos (e.g. secas e ondas de calor). Deste modo, de forma a mitigar os impactes potencias das alterações climáticas futuras é indispensável uma análise detalhada dessas projeções à escala regional e local, definindo setores prioritários. A identificação rigorosa dessas alterações potenciará o planeamento atempado e promoverá a adoção de medidas de adaptação adequadas para o setor agroflorestal. No entanto, estas medidas devem ser sempre equacionadas tendo em conta as efetivas disponibilidades de recursos e os impactes económicos e ambientais da sua implementação. Devem ainda visar uma solução equilibrada entre a sustentabilidade económica e ambiental.
Dr. João Cabral, CITAB, UTAD
Previsão de Tendências Ecológicas em Cenários de Alterações Climáticas (com Rita Bastos & Mário Santos)
A presente comunicação aborda a aplicação e o uso efetivo de modelos no contexto da previsão de tendências ecológicas em cenários de mudança provocados não só pelos efeitos das alterações climáticas mas também por outros fenómenos associados, tais como construção de infraestruturas, como barragens e parques eólicos, e/ou alterações dos usos do solo. Com este objetivo são descritos, de forma simples e intuitiva, a base teórica, os procedimentos inerentes e as aplicações de uma metodologia inovadora, the Stochastic-Dynamic Methodology (StDM), via apresentação de exemplos reais em diferentes casos de estudo.
A StDM pode ser integrada em molduras de modelação espacialmente explícitas, em interação com Sistemas de Informação Geográfica (SIG), para produzir padrões dinâmico-espaciais de componentes chave dos ecossistemas (ao nível de espécies mas também de comunidades ameaçadas) em cenários ambientais muito complexos e variáveis. Este potencial tem sido testado com sucesso em vários tipos de ecossistemas/habitats e contextos, nomeadamente na avaliação de sistemas aquáticos alterados, agroecossistemas sujeitos à intensificação de práticas agrícolas, ecossistemas afetados pelos efeitos dos incêndios florestais, por impactes ambientais imputáveis a infraestruturas e pela invasão de espécies exóticas.
Em resumo, o objetivo último desta comunicação pretende encorajar a discussão sobre o potencial da combinação de várias técnicas de modelação aplicadas a bases de dados de programas de monitorização ecológica de médio-longo termo. De facto, o desenvolvimento de ferramentas preditivas que possam apoiar a tomada de decisão é, hoje em dia, um requisito incontornável na definição de planos de gestão/conservação para restaurar funções e comunidades biológicas em ecossistemas sob o efeito das alterações climáticas.
Dr. Rui Cortes, CITAB, UTAD
Alterações climáticas e extremos hidrológicos em bacias florestadas: incidências ecológicas
Um dos fenómenos mais dramáticos resultantes das alterações climáticas são os extremos hidrológicos, com particular relevância para as consequências resultantes dos picos de cheia. Estes fenómenos são ainda amplificados pelo efeito dos fogos florestais, com incidências na diminuição da evapotranspiração e incremento da impermeabilização, traduzidos pela alteração dos próprios solos com tendência para a hidrofobicidade (repelência da água), aspeto que tem sido verificado em eucaliptais. A perda de solo e a acumulação de sedimentos nos rios, que bloqueiam o fluxo de água, traduz-se ainda por um rápido aumento de erosão fluvial, com a paralela e súbita progressão de caudais de máxima cheia, o que incrementa a sua perigosidade e conduz também ao alargamento do leito de cheia, pondo em causa as atividades económicas existentes. Acresce o transporte de nutrientes, especialmente fósforo, que conduz à eutrofização dos ecossistemas aquáticos. Os engenheiros florestais, em meados do século passado, foram pioneiros nas técnicas de correção torrencial, tais como bacias de retenção, conhecimentos que devem ser cada vez mais aplicados em cenários de alterações climáticas. Acresce um cuidado especial na definição das faixas ripárias, que constituem um mecanismo essencial para minorar o efeito dos fogos.
Dr. Paulo Fernandes, CITAB, UTAD
Alterações climáticas e fogos florestais: que impactos?
As alterações climáticas atuarão presumivelmente no sentido de favorecer condições pirometeorológicas conducentes ao aumento da incidência e gravidade dos fogos florestais. Esperam-se acréscimos na frequência e magnitude de fenómenos extremos com influência no comportamento do fogo, nomeadamente temperaturas mais elevadas, períodos de seca mais prolongados e mais severos e maior instabilidade atmosférica. No seu conjunto estas mudanças são de molde a favorecer fogos mais rápidos e mais intensos, com alterações na frequência, severidade e sazonalidade do fogo, bem como na extensão da área ardida e percentagem de fogos de origem natural.
As mudanças no clima são já visíveis nos incêndios atuais, verificando-se uma tendência crescente de aumento da dimensão dos maiores fogos bem como do seu número, pese embora a dificuldade em destrinçar o efeito climático do efeito de aumento da continuidade e combustibilidade do espaço florestal. No espaço de apenas duas décadas o tamanho máximo dos incêndios em Portugal aumentou uma ordem de magnitude e nos incêndios trágicos de Junho e Outubro de 2017 foram visíveis as marcas da alteração climática.
Alguns estudos extrapolam diretamente para o clima futuro as relações atuais entre condições meteorológicas e atividade de fogo, obtendo previsões de triplicação (ou mais) da área ardida média anual. Tais estimativas são contudo simplistas e irrealistas por não considerarem simultaneamente as alterações socioeconómicas e nos tipos de coberto vegetal que acompanharão as alterações climáticas, assim como as alterações na quantidade de combustível determinadas pela produtividade primária líquida e efeito de “fertilização” do CO2. Apesar das incertezas existentes é possível tirar partido dos atuais modelos e ferramentas de simulação para antever o futuro regime de fogo em função de cenários distintos.
Dr. Filipe Duarte Santos, CNADS e ULisboa
O desafios das Alterações Climáticas no século XXI
A evidência científica de que as emissões para a atmosfera de gases com efeito de estufa, resultantes de determinadas actividades humanas, estão a provocar alterações climáticas é actualmente muito forte. As alterações climáticas representam um risco global muito significativo que afecta toda a humanidade, embora de forma diferenciada. É necessário, por um lado, desenvolver acções de mitigação, ou seja de redução das emissões e, por outro, acções de adaptação a um clima mais quente e no qual os fenómenos climáticos extremos são mais frequentes. Apresenta-se uma análise da problemática actual dos impactes, vulnerabilidades e adaptação às alterações climáticas a nível global e em Portugal.
Dr. João Pradinho Honrado, UPorto
Alterações Climáticas, Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas
Dr. Carlos Borrego (Dep. Ambiente e Ordenamento, UAveiro)
Cidades Resilientes às Alterações Climáticas
As áreas urbanas são particularmente vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas, já que estão sujeitas, cada vez mais, aos impactos negativos das alterações climáticas e concentram cerca de 54% da população mundial. Por outro lado, as cidades estão numa posição única para assumirem um papel de liderança, incorporando a resiliência no desenvolvimento dos projetos que melhor sirvam a sua população, até porque mesmo num cenário de redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), o impacto das alterações climáticas irá intensificar-se nas próximas décadas devido ao efeito retardado das emissões acumuladas e das atuais emissões de GEE.
As administrações locais, sendo as entidades mais próximas das populações, são as mais indicadas para abordar as matérias climáticas de forma sistémica. Até porque a proximidade entre as pessoas, as empresas e os serviços oferece a oportunidade de construir uma região mais eficiente. Assim, a gestão municipal das cidades tem de adotar medidas de adaptação para aumentar a resiliência urbana e atenuar os inevitáveis impactos climáticos, de forma a minimizar os custos económicos, ambientais e sociais associados. Medidas essas que permitirão adaptar as cidades para fazer face aos impactos negativos de acontecimentos climáticos extremos, cada vez mais frequentes e intensos, como as ondas de calor, as secas, os episódios de precipitação extrema e os ventos fortes. Acresce ainda o agravamento dos fenómenos de crescente invasão e erosão da orla costeira portuguesa.
As estratégias municipais de adaptação assim como as estruturas municipais de resposta são, por isso, fundamentais à implementação de medidas de minimização dos impactos climáticos nas cidades. Importa identificar riscos e vulnerabilidades, avaliar opções de adaptação e apresentar ferramentas de comparação de fatores de resiliência urbana às alterações climáticas.
Dr. Fernando Lima, FCUPorto e CIBIO
Stress térmico, alterações climáticas e biogeografia: uma abordagem multidisciplinar
Os ecossistemas intertidais exibem alguns dos ambientes mais complexos do ponto de vista térmico à face da terra, informando-nos directamente sobre as relações entre o clima e a biodiversidade. No entanto, e não obstante estudos recentes nesta área, os mecanismos pelos quais padrões individuais de stress térmico se traduzem em respostas a larga escala (ex., invasões, extinções ou mudanças de limites de distribuição) são, na sua maioria, desconhecidos. Para melhor compreender estas questões, temos vindo a recolher dados de temperatura através de uma rede de sensores colocados ao longo da costa Atlântica entre o Algarve e a Escócia. Quando combinados com dados de satélite, os nossos dados permitem-nos analisar explicitamente a distribuição de micro-habitats a uma escala geográfica continental e dão-nos pistas sobre os mecanismos que determinam a distribuição de várias espécies. O nosso interesse principal é determinar como a variabilidade ambiental a escalas reduzidas se articula com as alterações climáticas a larga escala, ora assumindo um papel amenizante ora um papel exacerbante dos efeitos do aquecimento global.

